Haim - Women in Music Pt. III *****

Desespero, doença e melancolia. Ritmos fulgurantes, guitarras exuberantes, efeitos sonoros de feira e carrinhos de choque. Eis um dos segredos mais bem guardados da pop: como casar almas amarguradas com pernas a pedir dança? Quanto mais perfeito o casamento, melhor a pop – um teste que nunca falha. Ao terceiro disco, as Haim aproximam-se da excelência nessa arte de juntar o impensável. Os últimos anos caíram forte sobre as três irmãs: namorado com cancro, depressão, morte do melhor amigo, diabetes tipo 1... E tudo isso se reflecte nas 16 canções deste disco, em canções confessionais, cheias de dúvidas, mas quase sempre com respostas. Muito cinematográficas, na escrita, mas especialmente na produção. E, aqui, outro pequeno milagre deste disco: a forma como apropria, sem vergonha, por vezes ao nível do puro pastiche, as principais referências do grupo (Fleetwood Mac em “Leaning on You”, Joni Mitchell em “Man From The Magazine”, Lou Reed em “Summer Girl”, ou Prince em “FUBT”) e as desenvolve numa linguagem de extrema contemporaneidade, em que não se conhecem fronteiras ou limites. Os coros que já conhecíamos juntam-se a uma plêiade de instrumentos, em que será justo destacar o fabuloso trabalho de saxofone em vários momentos (por exemplo, em “Summer Girl”, canção notável a vários níveis). Difícil é eleger uma outra canção que se eleve do conjunto, neste disco em que exuberância rima, de facto, com elegância.

Car Seat Headrest - Making a Door Less Open ***

Esta é uma história já muitas vezes contada, mas que se repete uma e outra vez. Uma banda, eficiente mas irrelevante no panorama da indústria e comércio musical, faz um interregno, para regressar com imagem retocada, nova energia e ambicionando a glória que lhe falhou antes. O resultado raramente é satisfatório e esta não será a excepção à regra. Will Toledo aproveitou os quatro anos de pousio após “Teens of Denial” para prosseguir projectos paralelos, que em boa medida desaguam neste novo som da banda principal: onde antes havia um som lo-fi, baseado em guitarras, quase indie, há agora muitos sintetizadores, que se misturam com as guitarras, e um som a apelar aos grandes palcos (o nome que mais salta ao ouvido: The Killers). Estivéssemos nós em tempos de festivais e tal... Assim, restam canções como “Deadlines (Hostile)” ou “Hollywood”, para as danças possíveis. E uma profunda sensação de déjà vu.