Rita Vian - Sensoreal ***

Rita Vian chega ao primeiro disco de grande fôlego como um nome consagrado, fruto de bem conseguidas gravações menores, no que à duração diz respeito, e de uma surpreendente presença nos circuitos de festivais e outras atuações ao vivo. É por isso mesmo um dos valores seguros desta corrente que ancora paisagens e histórias urbanas em toadas ancestrais, com destaque para o fado e danças tradionais, servidos por eletrónica e percussão, basicamente. No caso de Rita Vian, a temática aborda as relações, num registo existencialista, que rejeita lugares e soluções comuns. As maiores fragilidades surgem de uma assumida menorização da base instrumental, que muitas vezes serve praticamente de fundo neutro a um canto declamatório e, logo, também ele pouco colorido (“Vida a Dois”). O tema forte do disco (“Cuido de Mim”) alia uma letra forte, menos palavrosa e atropelada mas densa de conteúdo, e uma voz com maior plasticidade. Um filão a explorar. 

Ricardo Ribeiro - Terra Que Vale o Céu ****

Ricardo Ribeiro (Lisboa, 1981) coleciona prémios, menções e referências de todo o tipo numa quantidade rara entre fadistas e mesmo outros artistas da nossa era. E tudo isso sem enveredar pelos caminhos de algum experimentalismo que boa parte da sua geração escolheu. Aqui, cultiva-se a tradição, que não é a mesma coisa que repetição. E essa tradição não é necessariamente apenas fado. É dança de percussões, em “Vira-Voltas”, ou uma coisa quase berbere, em “Terras Dum Mar Interior”, um original de Amélia Muge. Sim, a tradição aqui faz-se também de originais contemporâneos, sejam eles de outros fadistas (“Chave da Memória”, de Carminho), seja de poetas sobre fado tradicional (“Fado Passado”, de Nuno Júdice / Fado Franklin). “Tronco e Raiz”, um tema integralmente escrito pelo fadista, curiosamente afasta-se dos cânones e aproxima-se do fado-canção. Uma outra tradição, afinal.