Chico César - Vestido de Amor ****

Este disco de Chico César, o décimo em 27 anos de carreira, ficará certamente marcado pelo tema “Bolsominions”, lançado em plena pré-campanha para as eleições presidenciais de outubro, no Brasil, nas quais o cantor gostaria que fosse derrotado de vez aquilo a que chama de “neofascismo” vigente. Fortíssimo, esse é, porém, o único tema de intervenção, num disco todo ele, como de costume, apontado às pistas de dança. Chico cruza com particular alegria – bem patente em “Vestido de Amor”, o primeiro single –, ritmos que vão do reggae ao forró, passando pelas rumbas africanas ou sonoridades do mais puro rock. A doçura – “Amorinha” e “Te Amo Amor” – é a única força a rivalizar com a dança, num disco otimista de uma ponta à outra. Gravado em França, em 2021, conta com a participação de um dos ídolos do compositor, Salif Keita, em “Sobre Humano”, e do pianista congolês Ray Lema, em “Xangô, Forró e Aí”. 

Angel Olsen - Big Time *****

“Chasing the Sun”, que encerra o disco, envolta em cordas, é um hino à felicidade. Na primeira pessoa. Do plural. E tudo isto são novidades em Angel Olsen. Bom, as cordas eram tudo em “All Mirrors” (2019). O resto, a companhia, a felicidade, essas, sim, são novidade. Este disco acontece na sequência de acontecimentos relevantes na vida pessoal de Angel – a assunção pública de um amor, a morte dos pais – e isso percebe-se a cada canção. Porque há canções de perda (“Right Now”), como antes, no início da carreira, mas agora também há aceitação, esperança e amor (“Big Time”). Há, portanto, uma riqueza temática que torna empolgante a audição e a descoberta, bem patente na complexidade de “Right Now”. Musicalmente, estamos perante um regresso ao country inicial, após a experiência orquestral de 2019 e o disco a solo de 2020. Correndo o risco do lugar-comum, esta é uma obra, talvez a primeira, de perfeita maturidade. Um novo capítulo.

Harry Styles - Harry’s House ****

A propósito deste disco, a Rolling Stone garante que estamos perante um Mick Jagger desta nossa idade mais iluminada. A revista americana refere-se especialmente à atitude de gentleman rock´n´roll que Harry Styles tem cultivado, com um pé nas revistas de moda e outro nos tops dos magazines de música. As semelhanças terminam aí. A música de Styles é mais devedora da face sofisticada dos anos 1970, ou das pistas mais elegantes de dança da década seguinte. Na verdade, a hiper-produção com que os seus discos se apresentam vai buscar influências um pouco a todo o lado, sem que isso comprometa a originalidade e criatividade. Não há aqui ponta de melancolia, tudo é exuberância, num exaustivo enumerar de situações, alimentos (!) e outros objetos dignos – lá está – de revistas de moda sofisticadas. “Music for a Sushi Restaurant” abre o disco e dá o tom.