Amélia Muge - Amélias *****

Nem sempre os títulos dos discos dizem grande coisa sobre o que está lá dentro. Este, acreditem, diz e muito. Neste disco, não há apenas uma Amélia Muge, mas várias, muitas, impossíveis de contar. Ao longo de 30 anos de carreira (com poucos discos a solo, mas com múltiplas colaborações e outras tantas aventuras em vários palcos das artes), Amélia Muge foi ensaiando o que agora se mostra em todo o esplendor: um disco que vive praticamente apenas da sua voz, seja no papel principal, seja nas várias harmonizações com que, multiplicando-se, assume quase por inteiro o papel orquestral, criando ritmos e melodias, em gravações que se sobrepõem e sobrepõem. Além da voz múltipla de Amélia, pouco mais se ouve neste disco, à excepção de vários instrumentos de ritmo e um outro discreto apontamento de outra ordem. Como sempre, Amélia Muge explora o universo da música tradicional (“Meu Coração Emigrou”), do fado (“Chove Muito, Chove Tanto”), das vanguardas (“Diferente”). 

Aline Frazão - Uma música angolana ****

O regresso de Aline Frazão aos discos faz-se num registo de alegria e festa. Após o mais intimista e sereno “Dentro da Chuva”, de 2018, a música angolana – sim, música, o feminino de músico – rodeou-se de conhecidos e mais longínquos companheiros de ofício para uma celebração. Estávamos no segundo semestre de 2021 e já se antevia o fim da clausura da pandemia, havia, pois, que celebrar. Neste quinto disco, fica ainda mais evidente a triangulação que Aline realiza entra a Angola natal, Portugal de acolhimento e Brasil como ponto de união. Quase se sente a presença de Elis a certos passos de “Batuku”... O disco abre com “Luísa”, a celebração de todas as mulheres num nome. Tem convidados de origens várias e temas, também eles, de várias origens. “Valsa da Libertação”, que Ricardo Ribeiro musicou a partir de Pedro Homem de Mello, surge em simultâneo no novo disco de Dulce Pontes, embora quase irreconhecível.