Rodrigo Leão - A Estranha Beleza da Vida ****

Como num filme, outra vez. Os temas deste novo sucedem-se, em jeito de banda sonora de um filme que cada um de nós pode imaginar. Como noutros discos de maior fôlego de Rodrigo Leão. O ambiente onírico é agora ainda mais acentuado, devido à prevalência das encenações musicais que remetem para jogos de infância, em que pressentimos caixinhas de música, martelinhos e outras assombrações (“Sibila”, “A Valsa da Petra”. Trabalhos de pura nostalgia, sublinhados pela valsa e pelo acordeão. Como sempre, os temas cantados são entregues a grandes e pequenas estrelas internacionais, no caso, Kurt Wagner, Michelle Gurevich e Martírio. E também um cuidado especial na imagem, com a intervenção gráfica de Afonso Cruz e de Teresa Vilaverde. O disco encerra uma trilogia marcada pela pandemia (antes: O Método; durante: Avis 2020; após?: A Estranha Beleza da Vida), que o artista paradoxalmente classifica de Liberdade. O novo disco deverá marcar o regresso de Rodrigo Leão aos palcos.

Rita Redshoes - Lado Bom ****

Rita Redshoes quebra o silêncio de cinco anos com um disco integralmente em português e exclusivamente dedicado à sua recente experiência de maternidade. De certa forma, é quase como nascer outra vez. Sim, há aquela maneira de cantar, meio sussurrada, que já conhecemos há década e meia, e, sim, estão aqui alguns dos maneirismos de composição, e mesmo de orquestração, a que também estamos habituados. A grande novidade acaba por ser, por isso, o evidente prazer com que Rita descobre e trabalha as palavras em português, e mesmo como nelas tropeça, como quando tenta meter “temperamento”, onde de forma evidente o vocábulo não cabe (“Ego no Lugar”). Estão aqui canções que poderiam estar noutros discos da artista “Amor Intermitente”), mas a maioria são cantigas que poderíamos dizer de berço (“Canção Canora” ou “Canto da Sereia”, por exemplo), nas quais o tal sussurro de Rita assenta como se sempre a elas tivesse estado destinado.