André Henriques - Leveza ****

 

Leveza, mais que título, é conceito, atitude. Depois do “Cajarana” (2020), gravado na grande cidade, com toda a sua eletricidade e agitação, André Henriques (dos Linda Martini) traz-nos agora este segundo disco, a sua versão campestre, reflexo da sua nova vida algures na Ericeira. É um disco que remete frequentemente para o universo da bossa nova e a sua forma desacelerada de cantar o mundo. E há também muito experimentalismo, oriundo do jazz e da música eletrónica. A eletrónica é, de resto, omnipresente, ora entre a discrição de um tapete sonoro, ora irrompendo (d)a calmaria de alguns temas. O resto é praticamente acústico, percussões, metais, vozes e guitarra. Há uma trilogia de lançamento (“As janelas são de abrir”, “Os fantasmas de amanhã”, “Espanto”), para a qual Paulo Segadães realizou vídeos que lhe fixam a atmosfera, mas o disco vale pelo exercício de descoberta, no qual as inusitadas letras assumem papel de relevo.

Cristina Branco - Mãe ****

É possível ouvir este disco como se de um bailado se tratasse, com o piano de Luís Figueiredo (“Noite Apressada”), a guitarra de Bernardo Couto (“Rio de Nuvens”), ou o elegantíssimo contrabaixo de Bernardo Moreira, a assumirem à vez a frente do palco. Mas essa narrativa passaria, claro, ao lado do principal. Toda essa rendilhada e dedicada encenação coloca no centro a voz, segura, serena, de Cristina Branco. Tudo se passa num universo ambivalente, em que o recurso permanente ao fado tradicional se cruza com abordagens disruptivas, especialmente nos arranjos, seja pelo deambular inesperado do piano, seja pelos acordes de guitarra colocados em locais pouco ortodoxos. O resultado é sempre surpreendente. E belo, há que dizê-lo. Resta registar o óbvio, o contributo fundamental de velhos em novos poetas, sejam eles Natália, Mourão-Ferreira, Lídia Jorge, Manuela de Freitas, Aldina Duarte ou Teresinha Landeiro.