Teresinha Landeiro - Para dançar e para chorar ****

“Se é o medo, deixa que seja / abre-lhe a porta, a tua”. Em “Visita Inesperada”, letra e músicda própria, a voz de Teresinha Landeiro continua cristalina, como no primeiro disco (“Namoro”, 2018), mas agora já não é a intérprete de “fado jovem e leve”, como se anunciava no segundo (“Agora”, 2021). Não há, aliás, nada disso, nem amor, sequer, em todo este terceiro disco. Pela primeira vez, esta que é umas vozes mais relevantes de uma novíssima geração de fadistas aborda as temáticas mais sombrias que normalmente associamos ao género. E de que maneira! Em “Chegou a Hora” é a morte por opção própria, em “O Que Somos” é a perda da memória, por doença ou idade. E mesmo quando a surge a alegria, “Maré de Sorte”, é só porque alguém partiu. Um disco de grande rigor estilístico, mesmo quando (“Visita Inesperada”), à voz se junta apenas a guitarra elétrica, ou quando a palavra “instagram” se estreia no fado (“Maré de Sorte”).

Ana Lua Caiano - Vou Ficar Neste Quadrado ****

Estas canções do medo são um dos melhores testemunhos produzidos pela ficção nacional acerca da pandemia. Porque foi nesses dias de cerco, no longínquo 2020, que Ana Lua Caiano decidiu juntar as memórias da infância (José Afonso, José Mário Branco, ouvidos pelos pais), à sua música quotidiana (Bjork, Portishead), e ainda às lições de clássica e jazz. Desde então, gravou dois EP e entrou com algum estrondo no circuito dos festivais, regressando agora a essas canções, porque o distanciamento permite que temas como “O Bicho Anda Por Aí”, ou “Vou Ficar Neste Quadrado” assentem que nem uma luva noutros medos, bem mais presentes. A voz, as vozes, são o elemento condutor destas 11 canções. Os instrumentos populares e as vozes e sons da rua surgem-nos reestruturados pela eletrónica. Os autores de referência dos pais já tinham feito algo parecido com temas de raiz popular. Agora juntam-se-lhe os computadores e é bom saber que alguém prossegue a tradição.