O último disco dos Psychedelic Furs (“World Outside”) saiu há 29 anos, o mundo deu voltas e mais voltas. Eles regressam agora, como se nada fosse. “Made of Rain” não pega na história onde ela tinha parado, mas também não inventa novos caminhos. Na verdade, é como se essas três décadas não tivessem existido. Esses anos em que Richard Butler, o irmão e mais uns tantos se entretiveram em projectos diversos e em rodar os sucessos da fulgurosa década de 80 por diversos palcos. Ainda nessa década, estes ingleses evoluíram do punk original para uma sonoridade mais domesticada e destinada aos grandes palcos. Um som que assenta em guitarras (muitas), um inesperado e relativamente discreto saxofone e a voz esforçada e projectada de Butler, a ecoar os dramas e angústias geracionais. “Wrong Train”, “Don’t Believe” ou “You’ll Be Mine” são bons exemplos dessa atitude de uma música descomplexada, de efeito fácil, mas garantido.
Jessie Ware - What´s Your Pleasure *****
Numa entrevista à Glamour, a propósito de “What’s Your Pleasure” e de certa forma respondendo a essa pergunta, Jessie Ware esclareceu ao que vem: “Quis fazer um disco ao som do qual as pessoas façam sexo”. Não será exatamente ou apenas isso. Canções como “Adore You” ou “In Your Eyes” – a dupla de luxo no centro do disco – apelam claramente à continuação da dança por outras vias. Mas este é, essencialmente, um disco para as pistas. De disco, nem tanto pós-disco, ou sequer de nostalgia do disco dos anos 80, embora tenha de tudo isso um pouco. “Mirage (Don’t Stop”, outro dos temas incontornáveis deste exercício, recupera essa batida que vem dos 80 e se que eternizou nas pistas de dança. Começa por declarar: “A noite passada dançámos, e pensei que estavas a salvar-me a vida”, para no refrão explodir numo sussurro quase subversivo nos tempos de distanciamento e negação que vivemos: “Não deixes de te mover em conjunto, continua a dançar”. Este é de longe o disco mais expansivo de Jessie Ware, num sentido até literal. Ao contrário do que acontece nos anteriores três, aqui as canções tendem a desenvolver-se de forma caleidoscópica, com os pés assentes em sólidas secções rítmicas, que ora evoluem sobre si próprias, ora se fazem acompanhar de cordas luxuriantes ou coros ritmados. Tudo isto resultado de uma apurada produção (James Ford) e de uma estrela de créditos firmados para quem o melhor do confinamento foi cozinhar para uma família de quatro (sim, o podcast de gastronomia de Jessie recomenda-se).
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Discos,
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