Carminho - Portuguesa *****

O fado anda a ser reinventado, pelo menos, desde que Amália trouxe o saxofone de Don Byas para os seus discos e começou a cantar poetas contemporâneos. Nem Carminho, nem outros da atualidade, estão, portanto, a inventar nada. Mas não é por acaso, porém, que se traz Amália aqui. Carminho atravessa uma fase de infinitas possibilidades, como já se ouvira em “Maria” (2018) e se confirma na atual circunstância. Voz seguríssima, já sabíamos, a que junta cuidado e grande sensibilidade na escolha de autores, temas, referências, poetas, companhias, num balanço permanente entre a tradição e a abertura de caminhos. E por isso há aqui Marceneiro e Sophia, mas também Marcelo Camelo e Rita Vian (belíssimo dueto), e as guitarras ganham a companhia do mellotron e da pedal steel, muitas vezes a determinarem a atmosfera. “Praias Desertas”, de sua total autoria, sintetiza, em forma e conteúdo, essa tensão que atravessa o disco.


Pedro Branco - Amor ****

Da voz cheia, profunda, bem colocada, às orquestrações predominantemente acústicas, aos coros a fazer lembrar “Por Este Rio Acima”, tudo em Pedro Branco remete para um estilo musical datado. Já quase ninguém faz música com esta serenidade e este sentido do tempo, de haver tempo para ouvir. A memória de José Mário Branco fica-se pelo apelido, por um outro ou outro raro momento vocal e, sim, pela inscrição na linhagem dos cantautores. Depois de “Contigo” (2018), esta é a segunda gravação de fôlego de Pedro Branco, para a qual convocou quinze vozes femininas, às quais se junta o filho, Diogo, na belíssima “Sempre Refeito”. Capícua, Ana Bacalhau, Filipa Pais, Uxía, Amélia Muge – são apenas algumas das vozes que se desdobram em duetos em volta dos vários significados do amor. Uma excelente oportunidade para recuperar o prazer de ouvir sem pressa.