Memorabilia - Richard Wagner - Die Walkure

Quando era maestro residente da Orquestra Filarmónica de Israel, Zubin Mehta decidiu interpretar um excerto de Tristão e Isolda, a ópera de Richard Wagner (1813-1883). Resultado: músicos pediram escusa, espetadores saíram da sala e outros ficaram, mas foram protestando ruidosamente. 

Wagner não está interdito em Israel, mas a execução das suas obras é fortemente desaconselhada. O compositor de Bayreuth, cidade alemã onde viveu e que celebra um famoso festival em sua honra, tem escritos de juventude profundamente antissemitas e considerados precursores do nazismo, de tal forma que se transformou no favorito de Hitler. 

Mas é também autor de algumas das obras mais marcantes do século XIX, especialmente no campo da ópera. O que fazer? 

O tema tem feito correr muita tinta, mesmo antes das redes sociais e da cultura do cancelamento. Há quem considere que a obra de Wagner é uma consequência das suas ideias, e existem razões estéticas que sustentam a tese, e há quem considere que aquela música sublime é superior a tudo. 

Francis Ford Coppola fará certamente parte do segundo grupo, de tal forma que escolheu um trecho de Wagner para banda sonora de algumas das cenas mais exaltantes de Apocalipse Now (1979) – a Cavalgada das Valquírias, na célebre interpretação de Georg Solti, com a orquestra de Viena (1966). 

Sem qualquer gosto musical que se lhes conheça, os mercenários que Putin contratou para invadirem a Ucrânia usam o nome de Wagner como bandeira, num apelo primário à ideologia do compositor. 

Wagner fez, é certo, a cama em que a sua música se deita. Poderemos ouvi-la fora do contexto em que nasceu?