Bruce Springsteen - Magic *****

No seu último romance, A Estrada, Cormac McCarthy descreve uma América devastada por um cataclismo, numa parábola sobre a incomunicabilidade dos nossos dias. É esse o exacto ambiente em que decorre este disco de Bruce Springsteen. A mesma desolação, o mesmo ambiente sufocante, o mesmo odor a morte. Aqui apenas é mais perceptível e presente a razão da tragédia – a guerra do Iraque, nunca directamente citada, mas evidente em pelo menos três canções (Gypsy Biker é a encenação cortante do regresso dos caixões), ou – e é do mesmo que falamos –, o desrespeito pelos valores fundadores da América. “Who’ll be the last to die for a mistake?”, pergunta-se a certa altura. E mesmo nas canções aparentemente mais líricas, como em Long Walk Home (a América dos grandes espaços, o eterno regresso a casa…), lá surge uma voz muito antiga a lembrar o significado da bandeira. Até as poucas canções de amor nunca o são verdadeiramente. Radio Nowhere, que abre o disco, dá o tom. Na desolação (Is there anybody alive out there?), no desencanto, mas também na energia musical, que nos faz recuar umas duas décadas, até aos tempos mais vibrantes da E Street Band. Este é, pois, o regresso de Springsteen ao rock musculado, após a aventura folk de Seeger Sessions. A mesma batida de Born to Run, a omnipresença das guitarras, o saxofone de Clarence Clemons que irrompe dançante a cada esquina, a voz, quase sempre múltipla, a completar a epopeia. Um disco a que apenas falta (faltará?) um hit para as rádios.

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