Carla Bruni - Comme Si Rien N’Etait *****

Comecemos pelo que importa: este é o melhor dos três discos de Carla Bruni. E tem isso alguma coisa a ver com Sarkozy? Sim e não. Sim, porque um disco é também a sua circunstância e a verdade é que o casamento com o Presidente francês confere às canções de Carla Bruni uma outra leitura, entre o contraste e a insinuação, que transformam a sua audição numa experiência mais rica. Que ela assuma, em “Je Suis Un Enfant”, que continua criança, apesar dos seus 40 anos e 30 amantes, será apenas o mais evidente dos exemplos.
De nada vale – antes pelo contrário… - fingir a ex-modelo e agora cantora não é também Primeira Dama, ainda para mais por via do polémico Sarkozy. Todos temos a ganhar com esse reconhecimento, a começar por ela, obviamente…
Mas este disco também é o melhor de Carla Bruni por motivos que nada têm a ver com esse seu novo estatuto. Estamos perante um trabalho que confirma uma compositora madura, para o que muito contribui o facto de, ao contrário das gravações anteriores, as canções estarem agora mais vestidas de roupagens. Normalizadas, embora maioritariamente através de arranjos de enorme subtileza, as canções sobressaem mais que no anterior registo excessivamente intimista. E fica patente para os menos crédulos que a raiz fundamental de Bruni é, nada mais nada menos, que a tradicional “chanson”. Os mais ortodoxos clamarão “heresia”, mas vale a pena, por exemplo, perceber Brassens por detrás de “La Tienne”. É claro que Carla é deste tempo e, por isso, nada é assim tão simples e as influências continuam a passar pelo blues (“Tu Es Ma Came”, outra canção escandalosa…), assim como os temas são eles próprios de outras origens (“You Belong To Me”, canção americana dos anos 50 que Dylan também cantou).

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