Mudcrutch ****

Há muito tempo que não se via um discos destes. Mike Campbell toca guitarra no lado direito e a guitarra de Tom Leadon pode ser ouvida no lado esquerdo. Notem o preciosismo: temos duas lead guitars, mas sabemos sempre onde está cada uma dela. Tom Petty, ele próprio, deixa esses créditos por mãos alheias e concentra-se no baixo e na voz. Mas esta – ai esse preciosismo… - “excepto onde está indicado”, sim, que Leadon e o teclista Benmont Tench também têm direito a brilhar vocalmente. E falta apenas apresentar outro membro da banda, Randall Marsh, que toca bateria e nada mais.
A banda chama-se Mudcrutch e é provável que nunca tenham ouvido falar de tal coisa. Trata-se do novo projecto de Tom Petty, sendo que, na verdade, é o seu projecto mais antigo. Expliquemo-nos: Mudcrutch foi a banda organizada por Petty nos anos 70, antes de embarcar na aventura dos Heartbreakers. Gravou umas coisas dispersas e nunca teve grande sucesso. Porquê, então, o regresso a essa marca?
Bom, os Mudcrutch são realmente bem diferentes dos Heartbreakers. Estamos perante uma música muito mais próxima daquilo a que, nesses anos 70, se convencionou chamar de country-rock e também de southern rock. Tudo isto soa, por isso, a Flying Burrito Brothers, Byrds, Allman Broyhers, Grateful Dead (há mesmo remakes desses grupos – “Lover of the Bayou”, “Six Days on the Road”). Ouça-se, por exemplo, “Orphan of the Storm”, uma exemplar balada, ou as guitarras em pleno em “The Wrong Thing To Do”.
O disco acaba, por isso, por ser um certo regresso ao passado, impossível de concretizar pelos Heartbreakers. À parte as questões técnicas, este disco poderia perfeitamente ter sido gravado há 30 anos e a sua beleza advém, precisamente, daí, dessa indiferença ao tempo que passa.

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