Bob Dylan - Dylan **

Quando Mozart fez 250 anos, uns loucos também tentaram o mesmo - todo o Mozart num CD apenas. Os momentos comemorativos têm destas coisas, há sempre quem exagere. Não é possível, simplesmente não é possível, sintetizar Dylan em 19 canções, mesmo com o alibi da euforia celebratória envolvente. Este CD, pelo menos na sua versão mais compacta, tem por isso tanto de corajoso como de disparatado. De certa forma, o exercício roça a desonestidade. Em 45 anos de carreira, Dylan gravou legalmente mais de 500 canções, teve fases absolutamente geniais (65/66, por exemplo) e há pelo menos uma dezena dos seus discos de originais com lugar reservado em qualquer discoteca que não envergonhe o seu proprietário. Há sempre a desculpa de que se trata de um sampler para a geração iPod, mas convém que alguém explique a essa malta os malefícios do fast-food. E, já agora, que mesmo a zona negra – o CD ignora totalmente as duas décadas que vão de 76 a 97 – merece uma espreitadela, porque uma das riquezas da obra de Dylan é precisamente a descontinuidade. É claro que a versão tripla, com meia centena de canções cobrindo de forma mais uniforme estes 45 anos, resolve parte do problema, sendo por isso um investimento bem mais interessante. E aí já não se sente a enorme fragilidade da escolha que a versão compacta manifesta. Ah… não liguem à publicidade sobre uma re-versão (!) de Mark Ronson para Most Likely You Go Your Way. Desinteressante, no mínimo.

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