The Doors - Live at The Matrix 1967 *****

O que mais impressiona neste disco é a contradição entre o empenho dos artistas e a indiferença do público. Estávamos na Primavera de 1967, na São Francisco dos hippies e, numa pequena sala da cidade, actuava uma banda de Los Angeles que de hippie pouco ou nada tinha. Ao binómio peace and love, os Doors tinham respondido, no primeiro disco, editado no início do ano, com mais sombras que sol. Na tal sala, o Matrix, deveriam estar meia dúzia de pessoas, incapazes de adivinhar que, daí a poucos meses, um single (“Light My Fire”), retirado do tal primeiro disco, subiria pelos tops abrindo caminho ao mito.
Nas quatro sessões ao vivo que deram origem a este duplo CD, os Doors executam quase todo o primeiro disco, mas também o segundo (Strange Days), que veria a luz do dia no final do ano. E cantam ainda um tema que só aparecerá muito mais tarde (“Summer’s Almost Gone”), além de uma versão (“Get Out My Life Woman”) que não aparece em mais nenhum disco. Há até uma versão instrumental de “Summertime”. Tudo isto circulou durante muitos anos em discos pirata, até que a Rhino, que tem estado a trabalhar gravações raras dos Doors, resolveu fazer uma edição legal, com um som mais que aceitável.
Pormenores técnicos e equívocos do público à parte, a verdade é que estamos perante um concerto memorável de uma das bandas mais importantes do rock. O som do grupo estava já amadurecido, muito centrado nas teclas de Ray Manzareck, a tendência para o improviso era já patente, e a voz de Jim Morrison estava em pleno, entre o sensual e o descontrolado, embora ainda longe da demência que viria a atingir, o que, no caso, talvez seja uma vantagem (a versão bem diferente de “The End” é fantástica). Um disco essencial para fãs, mas que pode ser uma excelente entrada para os outros.

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