Leonard Cohen - You Want It Darker *****

Na conferência de imprensa de apresentação deste disco, três semanas antes de morrer, Leonard Cohen prometeu, pelo menos, mais dois discos. E também que fazia tenções de viver eternamente, embora depois tenha rectificado para os 120 anos... Vale a pena recordar este episódio e a auto-ironia de Cohen para colocar as coisas em contexto e retirar o dramatismo que estes actos finais sempre comportam. É claro que este é o último disco de Cohen, embora o filho, Adam - a quem verdadeiramente o devemos, tão dramáticas foram as circunstâncias da sua conclusão, graças ao estado de saúde de Leonard -, já tenha revelado que sobraram uns temas das sessões de gravação... Tendo sido gravado nessas circunstâncias, o disco ganha inevitavelmente um estatuto de testamento, acentuado pelo facto de a totalidade das canções se debruçarem sobre o tema da finitude. Não há propriamente qualquer balanço de vida, apenas a constatação de que tudo tem um tempo. E que o tempo, na circunstância pessoal, é o do fim. Poeticamente, Cohen está ao seu melhor nível, fazendo mesmo recordar o fulgurante início de carreira ("Treaty", "Steer Your Way", ou o tema que dá título ao CD), com recurso frequente a expressões da cultura judaico-cristã que são uma das suas marcas de água. Essa intensidade poética é servida por um apuramento meticuloso e contido da componente musical, para a qual contribuem Patrick Leonard (parceiro da triologia que começou com "Old Ideas", em 2012, e prosseguiu com "Popular Problems", em 2014) e, especialmente, Adam Cohen, a quem se deve a forma final. Este é, afinal, um disco que cumpre o que promete. You Want It Darker? Aí têm.

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