“Deveria ter percebido que a minha carreira estava em declínio. Não percebi, porque as coisas ainda corriam bem na Escandinávia, França, Portugal...”. O segundo volume da obra completa de Lloyd Cole – o primeiro saiu em 2015 e reunia a discografia com os Commotions (1983-88) – é admirável a vários níveis, a começar pela sinceridade com que confessa os seus falhanços.
Mesmo que esse falhanço seja, afinal, muito relativo, pelo menos do ponto de vista artístico. Citando Dylan, um dos seus ídolos assumidos: “there's no success like failure and failure's no success at all”...
Esta caixa conta a história da aventura nova-iorquina, logo a seguir ao fim dos Commotions. Fá-lo através dos quatro discos oficiais desse período: “Lloyd Cole” (1990), “Don’t Get Weird on Me” (1991), “Bad Vibes” (1993) e “Love Story” (1995). Mas também com um disco rejeitado pela editora, em 1996, e um outro que reúne versões alternativas e canções nunca editadas desse mesmo período. Precioso para entender essa aventura americana é o pequeno livro que integra a edição e no qual Lloyd Cole e os músicos que o acompanharam nos contam a história desses anos. Um músico desorientado, numa década áspera. Na Inglaterra natal, dominava a Britpop, mas, na sua “circunstância americana”, ele tentava encontrar um lugar entre Dylan, Lou Reed, Van Morrison, Burt Bacharach. Com as editoras a exigirem-lhe êxitos, que não chegavam, músicas de dança e outras concessões, que ele não fazia, para finalmente lhe fecharem a porta.
Resumidamente, disco a disco: Cole tenta dar continuidade e densificar os Commotions (90), faz um disco meio eléctrico, meio orquestral, numa tentativa de perceber o que queria (91), deita tudo a perder num disco denso e desfocado (93) e renasce das cinzas através de uma via mais acústica e folk (95), que prosseguirá na fase posterior.
Esta série de colectâneas tem a virtude de (re)colocar Lloyd Cole no lugar que merece, como um dos compositores mais interessantes da sua época. Canções como “No Blue Skies”, “Downtown”, “Undressed”, “Margo’s Waltz” ou “Like Lovers Do” não o deixam mentir.
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