David Byrne - American Utopia ****

Impossível ouvir “Dog’s Mind”, aquela micropeça de teatro inicial, um Presidente e os jornalistas sobre fundo de marcha lenta (fúnebre?), e não nos lembrarmos do actual inquilino da Casa Branca. Mas não, o disco terá sido concebido ainda na era pré-Trump e o desconcerto desencantado que o atravessa não é mais que o fio condutor de toda a obra de David Byrne, Talking Heads incluídos. Já agora, os mais nostálgicos podem começar por aí, com “Everybody’s Coming to My House”. O resto, diga-se, é muito consistente, puro Byrne, como se não tivessem 14 anos sem um Byrne a solo. As linhas melódicas do costume (“I Dance Like This”), a loucura surreal das letras (“Everyday Is a Miracle”), as camadas de ritmos e sonoridades cruzados à escala planetária. Até mesmo a companhia de Brian Eno em oito das dez canções. Apesar dessa constância, mérito dele ou saudade nossa, a sensação de que se reinventa a cada canção.

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