Cigarettes After Sex - Cry **

O sexo pode ser um longo, prolongado, interminável bocejo? Pelos vistos sim, e nem sequer será necessário recorrer ao igualmente bocejante Sting e ao seu célebre sexo tântrico. Greg Gonzalez consegue atingir o clímax do aborrecimento em apenas 40 minutos e nove rapidinhas. Alegadamente, as texturas instrumentais – talvez seja excessivo chamar-lhe canções – terão sido gravadas nos preliminares e só depois lhes foram introduzidas as letras. Venha o diabo e escolha. As músicas são um conjunto de exercícios planantes, à base de sintetizadores, guitarras e ritmos, que nunca conseguem erguer-se de uma desmoralizante horizontalidade. As letras, uma sucessão de narrativas com vergonha da pornografia, mas sem golpe de asa para a sensualidade. Ali, a meio caminho, sem encantar nem sair de cima. Ao segundo disco, é seguro garantir que se trata de uma banda que errou no nome. Melhor seria Cigarettes Instead of Sex.

Aldina Duarte - Roubados ****

E se a melhor versão de uma canção, vá lá, de um fado, fosse uma versão que se afasta do original, como se de algo sagrado se tratasse, e fosse por aí fora à procura de uma nova voz própria? O que Aldina Duarte faz neste disco é precisamente esse trabalho de criar novos fados sobre 12 fados que considera, de alguma forma, estruturantes da sua forma de estar no fado. São temas que conhecemos nas vozes de Tony de Matos, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Carlos do Carmo ou Amália, uns mais famosos, outros menos conhecidos, escritos quase sempre a pensar nesses fadistas, que Aldina Duarte reinterpreta, desconstruindo frequentemente o fraseado original, na busca de um sentido que seja seu. Os dois últimos temas do disco levam esse trabalho ao extremo, seja na versão quase rezada de “Padre Nosso”, seja no dueto improvisado com António Zambujo que transfigura “Rosa Enjeitada”. Foram necessários 25 anos de fados, comemorados com este disco, para que Aldina Duarte sentisse total confiança para roubar estes fados. A espera valeu a pena.

Belle and Sebastian - Days of The Bagnold Summer ****


Como transformar a banda sonora de um filme irrelevante num disco memorável? Talvez escolhendo o caminho mais difícil: juntar instrumentais, óbvios num exercício destes, a umas canções novas e outras mais velhas mas recicladas. Dito assim, lá está, teme-se o pior. Mas é preciso ouvir – este é um dos mais interessantes discos dos Belle and Sebastian dos últimos tempos. “Sister Buddha” é uma grande e vibrante canção, ainda para mais servida aqui com o bónus de uma versão instrumental com a delicadeza da música de câmara. “Jill Pole” é um Morricone adocicado pelo romantismo habitual da banda, que, mais à frente, “We Were Never Glorious” retoma de uma forma mais exuberante. “Safety Valve”, uma descoberta pré-B&S, mas que transporta já todos os genes que Stuart Murdoch haveria de doar à música pop. Canções cinematográficas, estas como quase todas as dos B&S, pequenas bandas sonoras despretensiosas de um filme irremediavelmente nostálgico