Aldina Duarte - Roubados ****

E se a melhor versão de uma canção, vá lá, de um fado, fosse uma versão que se afasta do original, como se de algo sagrado se tratasse, e fosse por aí fora à procura de uma nova voz própria? O que Aldina Duarte faz neste disco é precisamente esse trabalho de criar novos fados sobre 12 fados que considera, de alguma forma, estruturantes da sua forma de estar no fado. São temas que conhecemos nas vozes de Tony de Matos, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Carlos do Carmo ou Amália, uns mais famosos, outros menos conhecidos, escritos quase sempre a pensar nesses fadistas, que Aldina Duarte reinterpreta, desconstruindo frequentemente o fraseado original, na busca de um sentido que seja seu. Os dois últimos temas do disco levam esse trabalho ao extremo, seja na versão quase rezada de “Padre Nosso”, seja no dueto improvisado com António Zambujo que transfigura “Rosa Enjeitada”. Foram necessários 25 anos de fados, comemorados com este disco, para que Aldina Duarte sentisse total confiança para roubar estes fados. A espera valeu a pena.

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