Lisa Ekdahl - Give Me That Slow Knowing Smile *****

Estes suecos, ou têm um grande olho para o negócio, ou é mesmo uma questão de irremediável bom gosto. Agora que a vozinha infantil do jazz-bossa de Lisa Ekdhl já começava a enjoar, eis que a rapariga se apresenta toda pop, num registo que cai que nem gingas nesta nossa Primavera intermitente.
O esforço não deve ter sido grande. Lisa só era jazz para consumo externo - na Suécia, tem uma longa e bem sucedida carreira na música mais comercial.
Este disco suplanta, porém, as expectativas. A voz infantil continua lá, para irritar alguns, mas as canções são lindas (é mesmo essa a expressão…), numa elegante mistura de folk, indie e pop.
É claro que as composições são sólidas – a tal espantosa mestria escandinava -, mas o que mais surpreende nesta aventura é o cuidado extremo com que são vestidas. Como se cada canção fosse uma frágil jóia, embelezada e trabalhada de forma diferente.
A primeira canção, embalada de assobio e swing, ainda remete vagamente para a nossa conhecida Lisa, e até mesmo “I Don’t Mind”, que se lhe segue, ainda swinga. A grande ruptura surge com “I’ll Be Around”, canção em três partes: uma encantatória balada que evolui para o mais puro pop, para acabar em qualquer coisa que faz lembrar Nat King Cole. E é desta arte de cruzar tudo o que é bom gosto na história da música que se compõe este disco.
A árvore genealógica em que estas canções se inserem passa claramente pelos Beatles, como muita da pop que nos chega da Escandinávia. Nem que seja na clareza das melodias, na simplicidade com que é exposta cada canção. Ouça-se, por exemplo, “When” (o solo de guitarra, então…), ou “Beautiful Boy”, uma canção que poderia ter sido escrita por Lennon ou McCartney nos anos que se seguiram à separação.
É claro que tal simplicidade deve ter dado muito trabalho. Valeu a pena!

Sem comentários: