Bob Dylan - Together Trough Life ******

É como quando se fala de Vinho do Porto. Há as colheitas vintage e dessas pouco mais há a dizer que enaltecer a sua excepcionalidade. De um Dylan vintage – e este é um Dylan vintage – pouco mais há a dizer. Excepcional. Tudo o que a partir daqui possa ser dito só contribuirá para vulgarizar o que o não deveria ser.
De há uns anos a esta parte, mais precisamente desde 1997, com Time Out Of Mind, Dylan está a construir um legado que apenas rivaliza, na sua longa carreira, com a época áurea de meados dos anos 60.
Houve quem pressintisse nesta fase algo de crepuscular, um acerto de contas com a vida, uma reflexão sobre o fim. Este Together Trough Life vem contrariar claramente essa tese.
Este é um disco claramente romântico. Em que o amor é o último refúgio de um mundo turbulento. Aqui e ali, há versos cáusticos sobre “estados falidos” e coisas afins (“My Wife´s Home Town”). Mas o romance, bem ou mal sucedido, é o que atravessa todas as canções. E também o sonho (“This Dream Of You”), mesmo quando Dylan admite que, com ele, os sonhos não funcionam, mesmo quando se tornam realidade…
À semelhança do que acontecera com os seus últimos registos, musicalmente somos remetidos para épocas pré-rock. No caso, o blues, chegando a ouvir-se citações directas de Willie Dixon (“My Wife’s Home Town”), cruzado com uma forte influência tex-mex, não sendo por acaso que o acordeão de David Hidalgo (Los Lobos) é omnipresente. O disco terá sido gravado num acto de urgência criativa e isso nota-se nos arranjos imediatistas, sem grandes pretensões.
A canção mais marcante talvez seja “I Feel A Change Comin’ On”, na sua ambiguidade entre a política e o discurso amoroso, numa tapeçaria de versos que fará as delícias dos dylanófilos.
Como já vem sendo hábito, há edições para todos os gostos, com extras que incluem entrevistas, posters e amostras do programa de rádio de Dylan.

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