Um disco complexo. Talvez assuste. Mas muito sedutor, e isso
muda tudo. Aos 21 anos e ao segundo disco, Jessica Lea Mayfield revela uma
poética experiente, capaz de lidar com os mais tortuosos sentimentos. Embalados
pela fragilidade preguiçosa da voz, somos amiúde atraídos para autênticas
armadilhas de sedução, às quais, sim, nem falta alguma evidente carnalidade. E
é preciso frisar esse primado do texto, para que não sejamos (dis)traídos pelo autêntico caleidoscópio em que o
produtor Dan Auerbach (dos Black Keys) transformou este exercício,
surpreendentemente, sem pôr em perigo o conjunto. E é assim que viajamos pelo
mais puro pop (“Blue Skies Again”), a electrónica pouco sofisticada (“Grown
Man”), ou momentos de grande intensidade, como “Run Myself Into The Ground”,
passando pela revisitação da country (“Sometimes At Night”). As guitarras, um
tanto desgrenhadas, a par da voz, claro, acabam por ser a corrente que dá
coerência ao conjunto.