Religião, sexo, tentativas de suicídio, casamentos feitos, desfeitos e refeitos. A vida de Sinéad O’Connor tem enchido as páginas dos tablóides ingleses. E tem agora uma edição em disco, da qual só se pode dizer bem. Mais que autobiográfico, este CD é devedor da personalidade perturbada de Sinéad, reflectindo, por exemplo, as suas preocupações com os abusos sexuais a crianças na igreja católica irlandesa (“Take Off Your Shoes” e “V.I.P.” – um longo sussurro, que deixa as orelhas a arder a Bono...). Mas há também a mãe que se redescobre (“I Had a Baby”) e as alegrias breves do amor (a solar “4th and Vine”). E momentos de enorme beleza poética (“Reason With Me”) e uma versão avassaladora de John Grant (“Queen of Denmark”). Uma colecção que oscila entre coisas muito íntimas, dúvidas da alma, e canções de intervenção política. Espantoso é o equilíbrio disto tudo, o que transforma este disco no melhor de Sinéad em muitos anos.