Rufus Wainwright


Há uns anos que Rufus Wainwright não escrevia canções de recorte clássico. O novo disco, como nos conta Manuel Morgado, criou a oportunidade perfeita para o regresso de um dos mais completos artistas da actualidade.

Desta vez, as velas vão estar no palco. E se o Coliseu quiser agradar (e surpreender) a Rufus apenas terá que o imitar, dar ao dedo, alumiar isqueiros e telemóveis. Velas, quem sabe? É pois com velas (“Candles”) que o espectáculo começa, em memória de Kate McGarrigle, a mãe falecida há dois anos. Uma memória cara a Rufus e, por isso, a música de Kate propriamente dita ouvir-se-á mais à frente, num tributo preparatório de uma homenagem maior, daqui a uma semana, em Toronto. Como mais à frente se ouvirá uma canção de Loudon Wainwright III, o pai, e outra dedicada à filha (Viva, neta de Leonard Cohen), e ainda mais uma dedicada à mãe... É assim este Rufus que agora se apresenta em palco, ainda com mais referências à família, num movimento de permanente reverência às raízes da sua música.
Esta digressão  mundial (Europa, América, Austrália) destina-se a celebrar o regresso em disco às canções, puras canções, depois das experiências operáticas e pianísticas dos últimos anos. Out Of Of The Game é, pois, a continuação dos dois volumes de Want (2003, 2004), Release The Stars (2007) e mesmo de Poses (2001). Um exercício que teve aos comandos Mark Ronson, a vedeta do retro-soul (Amy Winhouse), o qual injecta nas composições características de Rufus meia dose de electrónica e outra de nostalgia, desta feita, à anos 70. Há, por isso, quem insista em ouvir por aqui Bowie, Fleetwood Mac, Elton John e até os Eagles – a toada ligeira do tema “Out Of The Game” legitima todas essas aproximações –, sendo que a verdade é que nunca deixa de se ouvir Cole Porter, talvez a influência mais marcante do fraseado daquele é certamente um dos mais interessantes compositores deste início de século.
Para o palco, saltará algo de Ronson - “Bitter Tears” e “Perfect Man” são indissociáveis da batida funk - mas salta especialmente o bom e velho Rufus, um artista com um apuradíssimo sentido do espectáculo. Out Of The Game está, de resto, recheado de temas de grande resultado dramático, a pedirem encenações grandiosos, não lhe falhem instrumentos e coros. É o caso, por exemplo, da canção que dá nome ao disco, ou de “Jericho” e  “Rashida”, propícias à exuberância de cabaret de que Rufus é um perito. E depois há os momentos mais intimistas, como “Montauk”, “Respectable Dive” ou “Sometimes You Need”, em relação aos quais se levanta a dúvida de saber se a abordagem ao vivo comporta os suaves adornos de Ronson, ou se, pelo contrário, opta por uma uma derivação mais singela.
Entre homenagens e o disco novo, pouco tempo sobrará para revisitar a carreira já recheada de sucesso e belíssimas canções. A ácida “Going to a Town”, ou “Poses” serão algumas das poucas excepções e quem quiser mais talvez seja de insistir nos encores...
Uma coisa é certa – pelo que se conhece do artista (e esta é a quarta vez que actua em Lisboa), a noite está garantida. Poucos reunem hoje em dia tão distintas qualidades de composição, interpretação vocal e dramatização em palco.