Um destes dias, alguém escrevia que M. Ward é assim uma espécie de Leonard Cohen um pouco menos acutilante. As pessoas escrevem com cada coisa… Heresias à parte, M. Ward é um trovador tipicamente americano, muito marcado pelo sol da costa oeste, estirpe bem diversa das penumbras do poeta canadiano. A comparação apenas se entende pela dificuldade de catalogação de Ward e em especial deste disco. E talvez por alguns temas que mergulham em coisas da alma tão caras a Cohen, em especial as canções da segunda parte do disco. A primeira, digamos que os cinco primeiros temas, são todos eles cheios de sol, em alguns casos raiando o pop adolescente, caso da releitura de “Sweetheart”, do peculiaríssimo Daniel Johnston, em dueto com Zooey Deschanel (ah, ainda não tinha alertado: M. Ward é o “him” do duo She & Him, precisamente com Zooey, uma cara linda de Hollywood). E é nesta primeira parte que encontramos “Primitive Girl”, pop de escrita própria, “I Get Ideias”, versão rock’n’roll de um velho tema celebrizado por Louis Armstrong e Peggy Lee. Ou ainda a perturbante e psicadélica “Me And My Shadow”. Na segunda parte, os temas viram-se para dentro, melancólicos, intimistas, por vezes sussurrados (mas, atenção, Cohen é mesmo outra coisa…). Dessa toada em tom menor (“There’s A Key” é um bom exemplo), sobressai “Crawl After You”, na sua simplicidade seguramente uma das canções mais bonitas da colheita de 2012. O conjunto revela um compositor em grande forma, um intérprete que nunca será mais que mediano mas que contorna razoavelmente as limitações, e um produtor irrequieto, que tem muitos mundos na cabeça e muito gozo em mostrá-los.