Velho estratagema: o artista tenta expiar uma separação emocional através de um disco em que, inevitavelmente, os farrapos desse mesmo passado teimam em deixar marcas por todo o lado. Norah Jones, porém, fá-lo em grande estilo, depois de, em 2009, com The Fall, ter mostrado ao mundo que, apesar do seu ar doce e frágil, não pretendia manter-se por muito mais tempo como a menina bonita do jazz ligeirinho. Passados três anos, a menina continua bonita, mas agora um pouco ácida. Para esse exercício de acidez contribui Brian Burton, também conhecido por Danger Mouse, um rapaz da electrónica que co-assina todos os temas e produz o disco (conheceram-se no projecto dele Rome). É um encontro estranho, entre uma voz melodiosa, clássica, e a vanguarda sintética. Mas funciona, porque Danger Mouse deixa respirar as texturas da voz de Norah respirarem (“Say Goodbye” é um excelente exemplo) e até sabe retirar-se nas alturas certas (“She’s 22”).