Este é o melhor disco de Patti Smith desde Horses, ou simplesmente o melhor disco de Patti Smith? A dúvida é, de certa forma, irrelevante e apenas prova que estamos, isso sim, perante uma obra maior da música pop-rock. É claro que nada substitui a força do disco inaugural (1975), uma pedrada no charco, pai e mãe de todo o punk. Mas a verdade é que 37 anos depois (!?), Patti não apenas emana a mesma energia como a canaliza com maior intensidade intelectual, poética e mesmo física. Sim, porque é de uma artista no auge da carreira que falamos. Nos últimos três anos, recebeu todas as honras e prémios literários pela publicação de Just Kids (Apenas Miúdos, Quetzal), o livro de memórias da coabitação com Robert Mapplethorpe, viu publicada a obra fotográfica, dedicou-se às artes plásticas, editou uma celebrada revisão da obra musical. Enfim, aquilo a que se chama de “consagração”, o momento mágico em que o sistema absorve os malditos e os glorifica em santos. Não é fácil, porém, sobreviver a tanta honraria e muitos soçobraram, ora ao peso do ouro, ora da responsabilidade. Ao invés, Patti Smith parece ter ido aí buscar ainda mais inspiração para aquele que é, de facto, o seu melhor disco. Pelo modo como trabalha a mitologia do Novo Continente (“Amerigo”), a cruza com a Europa renascentista e a mística católica (“Constantine’s Dream”), como celebra amigos presentes e idos (“Nine”, “This Is The Girl”, “Maria”), como se embrenha pela literatura e artes russas (“Tarkovsky”, “Banga”), pela melhor canção pop que já escreveu (“April Fool”). E porque – e isso nem seria o mais importante – nunca sua voz foi tão aveludada e definida como agora. Nota para burgueses: comprem a edição especial, livro mais CD. Vale a pena!