Coisa de alquimista. Janis Joplin transformava em ouro cada canção em que a sua voz tocava. E estabelecia um padrão difícil de alcançar a cada nova versão. Veja-se o caso de “Summertime”, em Cheap Thrills (1969), ainda com os Big Brother & The Holding Company. Ou “Me and Bobby McGee”, neste Pearl, gravado no Verão de 1970, mas lançado apenas em Janeiro do ano seguinte, quatro meses após a morte da cantora. Pearl é um disco absolutamente admirável, histórico. Claro que pela voz de Janis, por cada sílaba colocada em sítios inimagináveis, pelo fraseado blues tantas vezes copiado mas nunca imitado, pela naturalidade de quem canta como quem respira. Mas também por um rigor e uma criatividade musicais raras, no caso às ordens de Paul Rothchild, o produtor de, por exemplo, grande parte dos discos dos Doors. E se “Move Over” casa admiravelmente a guitarra, o baixo e a voz, já o a capella de “Mercedes Benz” é simplesmente genial e irrepetível. Esta edição de Pearl, não sendo a primeira especial em CD, pode funcionar como introdução a quem ainda não conhece Janis, mas agradará também aos fãs, pelos extras que contém. O primeiro CD tem os dez temas originais, remasterizados em estéreo, mais seis versões mono destinadas à rádio e, à vez, é possível apreender a excelência instrumental e a potência da voz. No segundo CD, surgem, além de dois temas ao vivo, uma série de versões alternativas de estúdio. Que fique muito claro: nenhuma destas versões é superior às que foram seleccionadas para o disco original. Funcionam, antes, como uma pequena amostra do modo como as canções foram construídas, do ambiente criativo e de boa disposição no estúdio. Mais do que alternativas, são versões intermédias das pérolas finais.