A música pop nunca se deu muito bem com projectos conceptuais. A pop, rock se quiserem, vive de uma certa superficialidade, liberdade, fragmentação, que casa mal com as amarras de uma ideia estruturada. É claro que há excepções, que são isso mesmo – excepções. David Fonseca dedicou o ano de 2012 a uma ideia – dois discos, lançados na Primavera e no Outono, em que supostamente nos dá a ouvir o retrato dos seus dias durante um ano. O primeiro, Seasons: Rising, saiu em Março e era suposto conter o lado mais luminoso dos dias de David; este Seasons: Falling seria, então, o reverso, a melancolia, os dias curtos e cinzentos. Primeira constatação: o autor teve uma certa dificuldade em manter a coerência do projecto, não sendo evidentes as diferenças de tom entre os dois discos. De certa forma, tendo em conta a tal aversão da pop à organização em gavetas, é relativamente indiferente que a separação de águas não seja mais evidente. Aliás, só a elevada carga de marketing que acompanha cada lançamento de David Fonseca – atenção, isto é um elogio – nos leva ouvir ventos gélidos neste disco, em contraposição ao supostos raios de sol da primeira parte do projecto. Porque, se é verdade que o primeiro single All That I Wanted é uma balada serena e outonal, já o tema que o antecede (Monday, Tuesday, Wednesday, Thursday) transpira jovialidade por todos os poros, alegria apenas ensombrada pelo erro de casting do duo com a brasileira Mallu Magalhães (não se entenda o que canta, o tom não cola com o de David e da própria canção). Dito isto, assinale-se que o disco tem algumas boas canções e que o principal pecado seja o do perfeccionismo. Mas, conceito à parte, revela pouca ambição e David Fonseca parece ter dificuldade em libertar-se de esquemas melódicos e interpretativos demasiado batidos.
[versão não editada]
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