Márcia - Casulo ***

Pode uma canção crescer, crescer e... entrar num beco sem saída e nunca ser verdadeiramente canção? Pode, claro. Este disco abre com uma dessas, e tem outras. Há por aqui um assumido desejo de contenção, que acaba por se transformar na armadilha que corta as asas à segunda aventura de Márcia em disco grande. É pena, porque, pelo que já fez, podia, devia e merecia fazer melhor. Sintomática é a escolha de “Deixa-me Ir” para primeiro single, canção mortiça, que só ganha força no clip de Miguel Gonçalves Mendes (José e Pilar), melancólica panorâmica sobre um “país que definha” às mãos da troika. Márcia, convém lembrar, chega a este disco com dois trunfos de peso: o êxito de “A Pele Que Há em Mim”, com JP Simões, e a autoria de “Até ao Verão”, o single de promoção do mais recente Ana Moura. Daí a expectativa, depois de uma estreia muito promissora (Dá, 2010). Deste novo capítulo esperar-se-ia mais que canções bonitas, ambientes de grande beleza e sofisticação (“Desmazelo”), poemas consistentes. Tudo competente, muito certinho, sim, mas mediano, sem a vontade de voar mais alto, sem que isso significasse sair do registo. “Delicado”, na mesma linha de “Até ao Verão”, vai por aí, mas pouco acompanhado.

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