John Legend, Meo Arena 14 out


“All Of Me”, o megassucesso de 2013, poderá dar origem a alguns equívocos. John Legend é um poderoso cantor de baladas, daquelas que se cantam sonoramente. Algo muito semelhantes a uma Adele de voz (ainda) mais grave. Em abono dessa tese, há no disco mais recente (“Darkness and Light”, de 2016) uma canção (“Love Me Now”), que mais não é que uma tentativa de aproveitar a embalagem comercial desse sucesso que atirou Legend para a fama. Há até a coisa matreira de incluir umas linhas de piano em tudo idênticas... Mas “Darkness and Light”, a começar pelo título, é um disco bem mais complexo que essa abordagem melosa, revelando um artista que não se deixa engaiolar nessa aproximação simplista. É um disco verdadeiramente, de sombras e luz, de amor em tempos de guerra, se quisermos. A canção para a filha (“Right By You”), com ternura tintada de angústia por um futuro tão incerto neste planeta, ou a história de uma mera operação stop na estrada (“How Can I Blame You”), metáfora para a violência policial com motivações racistas. Complexidade que se revela também nas texturas musicais, como no groove de “Penthouse Floor”, a milhas da rotina das baladas bem comportadas. Longe vão os tempos em que Legend era um protegido de Kanye West, conforme atestam os muitos Grammys e mesmo o Oscar entretanto amealhados. Face a alguma futilidade reinante, apresenta-se, portanto, um artista adulto, em toda acepção da palavra.

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