“American Dream”, a canção, sintetiza a coisa: a electrónica é planante, borbulhante por vezes, e há mesmo coros doo woop a envolver a voz de quase crooner de James Murphy. Como numa valsa pós-moderna. Mas a melodia rima com melancolia. E do que a canção fala mesmo é da passagem do tempo, dos sonhos que envelhecem connosco. Podemos passar a noite a dançar, por exemplo ao som dos LCD Soundsystem, e até misturar ácidos com revoluções, mas o que o espelho da manhã nos devolve é mesmo a idade.
A música de Murphy teve sempre esse sabor agridoce tão típico de Nova Iorque. Este quarto disco em 15 anos não é excepção e até talvez acentue esse desencanto. Trata-se de um regresso após cinco anos de silêncio, iniciados com um memorável concerto de despedida... E o mais importante que há a dizer é que “American Dream” mantém a banda na linha da frente do melhor que por aí se faz. Ou seja, o quarto disco de uma série indispensável para entender a música contemporânea. Nem tudo passa por aqui, é certo, mas poucas músicas sintetizam tão bem a ilusão e desilusão deste início de milénio.
Os LCD Soundsystem continuam a ser James Murphy, que escreve todos os temas, canta e toca uma miríade de instrumentos, eletrónicos quase todos. A frieza e o esquematismo, a lembrar por vezes os Kraftwerk (“How Do You Sleep”), são temperados por secções rítmicas e guitarras eléctricas (“Emotional Haircut”), embora nem mesmo elas consigam sempre quebrar o gelo.
Das muitas referências musicais que por aqui passam, vale a pena registar as que abrem e fecham o disco: “Oh Baby”, uma quase homenagem aos Suicide, de Alan Vega (“Dream Baby Dream”), e “Black Screen”, uma longa e muito pessoal despedida de David Bowie, à volta de cuja influência se constrói, aliás, outra canção: “Call The Police”.
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