Jesus, é sabido, gostava mais dos pecadores que dos fascistas. Ah... não sabiam? Pois é essa a história que Jesus, o próprio, conta a Woody Guthrie, no diálogo imaginado em “Jesus and Woody”, um dos três originais que Ry Cooder assina neste seu regresso aos discos. Não se pense que fica pela parábola, não, todo o disco é um apelo à acção, porque eles, os “assassinos” derrotados em 1945 estão de novo a preparar a sua “máquina de ódio” e os “bons” devem juntar-se para se defenderem do mal. Exagero? Há muito que Cooder escolheu o seu lado e isso ficou bem patente nos dois últimos discos de estúdio, especialmente em “Election Special”, de 2012, um autêntico manifesto anti-Romney, mesmo que Obama não precisasse de tal ajuda para a reeleição.
Desta vez, não há um alvo imediato a abater – sim, não há aqui referência, mesmo que indirecta, a Trump -, revindicando, antes, Cooder o estatuto tradicional do artista que se coloca do lado dos pobres e desvalidos, contra todo o tipo de opressão. Sendo que o elemento religioso é amiúde chamado ao palco, nem que seja pelo facto de o gospel ser uma das bases musicais que atravessa todo o disco. “You Must Unload”, é disso um exemplo, um tema de 1927, que apela aos cristãos que se aliviem da ostentação terrena, se querem ascender aos Céus. Coros e violinos fazem o resto.
Política à parte, o disco acaba por ser quase um catálogo de criatividade em redor dos formatos clássicos da América (blues, country, bluegrass, gospel), criando-se para cada tema uma atmosfera específica. Os saudosistas de “Paris Texas” têm mesmo uma recriação daquele ambiente tenso e lânguido em “Nobody’s Fault But Mine”. Ry Cooder toca quase todos os instrumentos, o filho (Joachim) assume a produção.
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