Josh Tillman, aliás Father John Misty desde 2012, quatro discos contando com este, é um dos maiores compositores – e, porque não? cantores – da actual música pop. Com uma especialização, é certo, em melodrama, mas há lá coisa mais linda e pop que o melodrama, a lágrima que se esconde atrás de cada beijo, a incompreensão global dos dramas juvenis que se estendem por toda a idade adulta? Este disco resulta da assunção plena dessa ambiguidade, ou, mais prosaicamente, de dois meses fechado num hotel, substâncias mais ou menos proibidas, com o propósito de produzir dez canções biográficas, encharcadas num arrependimento que se transfigura em redenção por via da ironia. “E se fosses tu o compositor, despindo-me repetidamente em público, para mostrar quão nobre e nu consegues ser?”, canta ele, à amada e musa, em “The Songwriter”. Toda a intimidade ao serviço da arte, sejamos benévolos. Em sílabas minuciosamente entoadas, já menos a lembrar Elton John, com piano e orquestração tão Lennon anos 70 que até dói.
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