É quase impossível não pressentirmos “Verde Anos”, de Paredes, ao virar de cada nota suspensa de “Faduncho”, o tema que encerra este disco e que, curiosamente, é o único em que Tó Trips e Pedro Gonçalves são deixados sozinhos, na guitarra e no baixo com que, há década e meia, se lançaram nesta aventura. Essa quase memória de uma guitarra ali fica a fazer o arco com a memória da própria banda. E banda é precisamente uma das novidades deste disco: agora já não são apenas dois, como nos cinco discos anteriores, mas sim um grupo de músicos que se juntam em estúdio para dar início à aventura, que se desdobra já pelos palcos nacionais. Sem a banda, por exemplo, sem a bateria, como seria possível esgalhar o blues-punk “The Egyptian Magician”, de homenagem a Zé Pedro, ou partir para a desbunda da banda sonora de um policial imaginado, que é “Desassossego”? A bateria dá músculo rock a quase todo o disco, abrindo ainda mais o leque já enorme de jazz, fado, western, caraíbas, África, que torna os Dead Combo numa das mais originais sonoridades lusitanas dos últimos tempos. A banda, a bateria e, sim, também o produtor externo, Alain Johannes, outra estreia. E ainda Mark Lanegan, aquela voz pastosa – sim, voz, num disco dos Dead Combo... – às voltas com um dos poemas ingleses de Fernando Pessoa sobre guitarras angulosas e rugosas, a ilustrar a dor e a solidão. Uma outra maneira de abordar “La Forza del Destino”, uma leitura de guitarras lânguidas e sonoridades marítimas (a percussão, lá está) da obra de Verdi. E a morna para Carmen Miranda e os metais de “Interlúdio”. Um universo em expansão, esta música, tão daqui e tão universal.
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