Aos 55, Mark Lanegan faz um balanço de vida. Num livro, “Sing Backwards and Weep”, no qual recorda os anos conturbados dos anos 80 e 90, das drogas aos serviços de urgência de hospitais, os bastidores dos Screeming Trees e dos Queens of the Stone Age (já nos anos 2000), histórias e mais histórias dos amigos aos quais foi sobrevivendo. E também num disco que – diz – resultou da catarse de se expor em público de uma forma tão explícita. Porque, como afirmou numa entrevista recente, “Songs aren’t real life, you know?”. Porque, apesar de assentarem numa base quase sempre autobiográfica, as canções acabam por ser apropriadas pelos ouvintes, virando costas ao criador. Livro e disco deixam claro, logo nos títulos, ao que vêm: a sombra permanente da morte e da dor, como sempre nas canções de Lanegan. Este é o terceiro disco completamente ensopado de electrónica, mas o seu peso só se sente no esmagador tema de abertura. Depois, mercê da urgência com que foi gravado, o disco mostra-nos muitos temas quase simplesmente esboçados. Por isso, apesar do ambiente pesado das letras, as orquestrações permitem alguma respiração e até alguma luz. A dupla acústica/blues de “Hanging On” / “Burying Ground” são disso o exemplo mais acabado. Como, antes, “Apples From a Tree”. “Eden Lost and Found”, com um fundo de órgão Farfisa gravado por telefone evoca tanto Lou Reed que até dói. Lá está, Mark ia gostar de ler isto: Termina com o verbo doer.
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