Não se fazem muitos discos assim. Discos que nos cativam à primeira, mas que só se mostram em plenitude quando o conhecimento mútuo já vai avançado, audição após audição. Quando tiramos da estante “Um Adeus Português”, de O’Neill, para melhor entendermos o diálogo que aqui com ele se estabelece. Ou quando damos por seguro que é mesmo uma memória de “A Morte Saiu à Rua”, de José Afonso, que se ouve em “Canção de Águas Mil”. Saber que há um verso de Robert Frost que desencadeia “Era de Ouro” é já um exercício mais avançado. Já que a Bíblia, essa, esperávamos que por aqui andasse. Um disco culto, que coisa fora de moda, mas, acima de tudo, um disco de profundo desencanto pelo rumo deste mundo, sendo por isso um disco profundamente político. A religião servirá aqui mais de veículo de expressão do que de solução. Um disco pop, na sua essência, mas musicalmente muito mais ambicioso. E conseguido.
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