Ia começar por uma referência à capa, do género “eis uma
candidata à pior capa do ano”, mas depois reparei que a foto é de Anton
Corbijn, o grande Corbijn. Arrepiei caminho – que percebo eu, afinal, de
fotografia? Vamos, então, à música.
Robbie Robertson, para os mais esquecidos - o homem não
gravava há uma década e meia e, por isso, deve haver pelo menos uma geração que
nunca o ouviu –, integrou uma banda mais ou menos mítica estranhamente chamada
The Band, que gravou umas coisas com Dylan e outras sem Dylan, e que se tornou
mundialmente famosa com o espectáculo de despedida, em formato de filme: “A
Última Valsa” (Martin Scorcese).
A propósito, este disco tem, não uma valsa, mas um tango, “Tango
for Django”, algo experimental, não tanto quanto “Madame X”, de e por Eric
Clapton, com “texturas sonoras” de Trent Reznor. O resto do disco é,
essencialmente, blues. E muito Clapton (assina ou interpreta sete dos 12
temas).
Robbie Robertson empreende uma viagem autobiográfica, aos
anos 60, aos tempos da banda, aos seus guitarristas preferidos (“Axman”), mas
também introspectiva (daí o título do CD), que torna o disco num exercício com
o seu quê de romântico. As guitarras, é claro, são o fio condutor das histórias
e há-as, as guitarras, de todas as sonoridades possíveis, felizmente em doses
aceitáveis. As canções são encenadas, há aqui algo de cinematográfico (a
actividade de Robbie nos últimos anos), o que lhes confere alguma diversidade,
mas igualmente uma modernidade que chega a surpreender. Apesar disso, e tendo
em conta os nomes envolvidos (já falei de Steve Winwood?) e a prolongada
ausência, seria de esperar uma maior densidade. Cumpre, mas…