Um mau disco. Obviamente, isso é algo de que Rufus Wainwright seria incapaz, ou que lhe exigiria um certo esforço. E, no entanto, no entanto... este é um disco que se ouve com algum desencanto. Após alguns anos de aventuras mais ou menos operáticas, homenagens a divas e exercícios similares, Rufus ensaia um regresso ao pop, às grandes canções pop, que, não sendo totalmente decepcionante, deixa um certo amargo de boca, no caso, de ouvido. Talvez que o erro central tenha sido a escolha do produtor – Mark Ronson, o britânico que, entre outras façanhas, é o quase co-autor de Back To Black, de Amy Winehouse, tanta força tem a sua marca digital. Mas aqui, com Rufus, a presença de Ronson, contratado para recriar o ambiente dos anos 70, é excessiva (como sempre, aliás) e as canções de um dos melhores escritores deste início de milénio ressentem-se. Talvez que elas, as canções, pelo menos a maioria, estejam uns furos abaixo do melhor que Rufus consegue, mas a hiper-produção, dos coros à electrónica, tudo algo gongórico, encarrega-se do resto. Sente-se, igualmente, que Rufus parece estar demasiado preocupado em homenagear toda a gente, seja o companheiro, seja a filha, a mãe (Kate McGarrigle, recentemente falecida, a quem é dedicada uma das melhores baladas, “Candles”), seja até mesmo a manager... Talvez que de uma próxima vez, mais liberto do ponto de vista criativo, volte a mostrar-nos daquelas grandes e belas canções que dele esperamos. Por enquanto, ficamo-nos com a canção que dá título ao disco, Rufus vintage, “Jericho” e mais uma outra, motivos mais que suficientes para celebrar o “regresso”.