A verdade é que estamos todos um pouco mais velhos, diria o inevitável La Palice. Apesar de tudo, uns mais velhos que outros, que isto da idade tem os seus segredos, especialmente na forma de a cortornar. A idade é precisamente o tema central na abordagem do novo disco dos Walkmen. Desde logo porque os rapazes decidiram encher a capa de criançada, em ambiente descaradamente familiar, no disco que marca o décimo aniversário da banda e que se chama Heaven, palavra demasiado celestial para a rebeldia que lhes colávamos. Um equívoco, na verdade. Porque do que gostamos mesmo nos Walkmen – e não é por acaso que a maioria dos seus seguidores em Portugal não são propriamente adolescentes... – é da rebeldia estudada, a pose da rebeldia. Uma rebeldia em nosso nome, os acomodados. Heaven é, apesar de tudo, um gesto de clarificação. Continuam lá as guitarras primárias, pouco mais que riffs ou um dedilhar encantatório, a voz entre o balbuciar e o desespero do grito, uma atitude que tanto remete para os anos rock’n’roll, como para o punk, o que é mais ou menos a mesma coisa. Mas agora os Walkmen estão felizes e não é suposto que os rebeldes o sejam. A tal contradição que sempre lá esteve, e que só agora se torna evidente. Teorias à parte, eis uma dúzia de canções vibrantes, das quais é difícil destacar uma. Talvez a abertura, “We Can’t Be Beat”, uma balada acústica, coros à maneira, que evolui para um cântico de recorte celebratório. Ou, quase ao calhas, “Heartbreaker” ou “The Love You Love”, duas composições que evidenciam todo o ADN da banda. Ou, na faceta mais adulta, a mais que sóbria “Southern Heart”, uma voz solitária que ecoa sobre um quase imperceptível fundo de guitarra acústica. Estão, de facto, mais crescidos.