Onde acaba o piano e começa a percussão? Onde acaba a raiva e começa a ternura? Esse é um jogo que Fiona Aplle não nos deixa jogar. Ela é a dona do jogo, joga como quer (são conhecidos os seus desencontros com produtores e editoras…). A nós resta-nos assistir – e “assistir” é a palavra certa quando se fala desta arte -, mesmo quando o ritmo parece chamar-nos, como em “Left Alone”, uma canção que deve tanto ao jazz, como à (bom, mais ou menos…) assumida loucura de Fiona. Estamos num território de pura liberdade, de criatividade sem barreiras. Poderíamos convocar Joni Mitchell, Regina Spektor ou Cat Power, ora como influências, ora descendências, ora aparências. Mas seria sempre menos que Fiona. “Valentine”, por exemplo, é uma dessas canções de amor/desamor em que os fantasmas andam à solta e fazem das suas. E o leve e quase imperceptível coro de “Periphery” está ali só para nos lembrar que há uma “normalidade” algures, mas não aqui.