Este disco é energia pura. Anuncia-se isso nas tonalidades eléctricas da capa, mas é a vitalidade das canções que o confirma. Há referências sombrias atribuíveis, talvez, à tristeza afectiva da autora (os amigos que se perdem e não voltam mais, em “Manhattan”), ou ao estado de desânimo global (estamos sentados em ruínas, canta ela em “Ruins”). É verdade. Mas este disco está mais para abrir uma nova fase que para lamuriar os amargos do passado. Certamente que não conseguimos quebrar as amarras da condição humana (“Real Life”, ou “Human Being”), mas ninguém nos pode proibir de aspirarmos ao estatuto de super-heróis (“Nothin’ But Time”). Este é, afinal, o disco de libertação e renascimento de Cat Power. Para trás fica a fase mais intimista e artesal do início e a neo-soul de que The Greatest (2006) foi o expoente máximo. Neste Sun, que já andaria a amadurecer há meia dúzia de anos, mas que levou um empurrão decisivo já em 2012, surge-nos uma Cat Power sozinha em estúdio, a compor tudo, a tocar (quase) todos os instrumentos, a cantar talvez da forma mais segura que já lhe ouvimos – embora sem perder aquele grão que encanta –, finalmente, a produzir. As guitarras ficam quase esquecidas (“Cherokee” é uma razoável excepção), o piano reduz-se praticamente à marcação do ritmo, e o palco fica para os sintetizadores, caixas de ritmos, e similares. Espantoso é que a intensidade com que é usada toda essa electrónica deixa espaço para uma arquitectura musical essencialmente subtil, em que tudo respira e toda a respiração nos é dada a ouvir. Exemplo supremo disso mesmo é “Nothin’ But Time”, uma peça de 11 minutos, com Iggy Pop no papel de convidado, e David Bowie da fase Low a pairar como referência explícita (“it’s up to you to be a superhero”).
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