Lina_Raul Refree ****

Um belíssimo disco de fado. Arrumem-se desde já os preconceitos: não há aqui uma única guitarra portuguesa, mas, apesar de ainda agora estarmos no início, este será certamente um dos melhores discos de fado de 2020. Lina, anteriormente conhecida por Carolina, juntou-se ao produtor catalão Raul Refree (Silvia Pérez Cruz, Rosalía), para reinterpretarem Amália (mais um tema de Variações e outro de Marceneiro/Amélia Muge). O resultado tem tanto de estranho, como de cativante. Sem o suporte das guitarras, liberta da esquadria sonora tradicional, Lina supera-se na interpretação genuinamente fadista. A seu lado, Refree constrói um percurso inesperado de pianos e electrónica, ora emulando guitarras (“Cuidei que Tinha Morrido”), ora gerando massas sonoras quase espectrais (“Os Meus Olhos São Dois Círios”). Face a outros exercícios similares de trabalho sobre formas tradicionais, faltou a Refree trazer, também para a voz de Lina, um Cohen ou um Bowie. O fado teria gostado.

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