Big Thief - Two Hands ****

Na sua recente passagem por Lisboa, os Big Thief revelaram-nos um pouco do seu processo criativo: metade de um concerto para lá de impecável, a outra metade à beira do desastre, porque feita à custa de canções novas, sem rodagem. Este disco, o segundo no espaço de um ano, é em boa parte constituído por canções que a banda trabalhou em palco, ao longo de anos. Basta passar pelo Youtube para encontrarmos diversas versões, por exemplo, de “Shoulders”, uma composição, aliás, paradigmática do território em que a banda se move, com frequentes referências ao mal (no caso, a violência doméstica) que se esconde na beleza das coisas. Mas este disco não recolhe apenas canções de estrada, de certa forma ele tenta replicar as aventuras de palco, numa gravação crua, sem muitos artifícios. Um som rude, que contrasta flagrantemente com o ambiente quase celestial de “U.F.O.F.” (2019). Adrianne Lenker está aqui, por isso, muito mais perto daquela radicalidade de palco, como em “Not”, seja na sofreguidão da voz, seja na exuberância das guitarras, a lembrar algumas aventuras de Neil Young. A acústica e quase bucólica “Wolf”, ou “Forgotten Eyes”, a lembrar tanto os Rilo Kiley, de Jenny Lewis, são momentos em que essa urgência dá lugar a uma distensão muito pop. E é tão pop esta música, mesmo que o não pareça.

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