Fiona Apple nunca foi propriamente uma menina do coro, naquele sentido do pop melódico, penteadinho, no seu lugar. Mas nunca, como neste regresso após quase uma década de silêncio (“The Idler Wheel…”, 2012), foi tão longe na dissonância. Estamos ainda em zona pop, pela atitude e inevitavelmente pelo mercado em que se move, mas estas 13 canções devem muito é ao jazz, especialmente na sua variante free, free jazz. Seja pela recusa do facilitismo da melodia óbvia, seja pela descontinuidade de trechos e estilos musicais(“For Her”) , seja pela inacreditável liberdade instrumental e de interpretação (em “On I Go” fica mesmo para a posterioridade um erro no final do refrão…). O disco foi gravado na casa de Fiona, na Califórnia, com mais três músicos, que tocaram literalmente em tudo o que estava à mão, gerando registos rítmicos surpreendentes e inolvidáveis, no tema título, por exemplo. E mesmo na frente vocal, esta menina que nunca foi do coro inventa coros, que são mais somas de vozes do que propriamente qualquer expressão uníssona da presença humana (“Shameika” e “Newspaper”). “I Want You To Love Me”, o tema-título, ou “Under The Table” são canções em que a exuberância desta abordagem de jam session balizada atinge uma expressão mais evidente. Grandes canções. Estamos aqui perante um território estético pouco canónico, mas que, paradoxalmente, absorve e desenvolve a fragmentação estilística que domina os tops de todo o mundo. A expressão de toda a originalidade interior, no momento exacto em que o terreno está fértil para a sua progressão e consequente assimilação pelo colectivo. Costumam ser assim os génios.
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