Joe Jackson - Rain ****

Há discos sobre os quais temos imensa pena que não sejam primeiras obras. Este, por exemplo. A energia das estreias está cá toda. E a produção despojada remete mais para um artista em início de carreira do que para uma estrela, vá lá, meia estrela, do universo pop a quem tudo é permitido. Seria, pois, um acontecimento, esta primeira obra.
Mas Joe Jackson é um veterano. E isso muda tudo. Já conhecemos esta batida, aqueles acordes de piano, as linhas do baixo. E mesmo esta ideia do trio pop atípico já a ouvíramos, por exemplo, no live Summer In The City (2000). Quem considera que um artista tem a obrigação de mostrar novidade a cada passo que dá, que se desengane deste disco.
Com Rain, temos um Joe Jackson maduro, que já deu a volta a toda a música. Fez pop, fez jazz, fez clássica. E agora volta ao pop, só aparentemente simples, porque simples ele nunca o fez. Já no final da década de 70, por entre os ruidosos estertores do punk, foi pela elegância que se distinguiu. Vibrante, mas elegante. Como depois, nas incursões mais jazzísticas.
E é para esse tempo inicial que Rain remete. Jackson volta a ter com ele dois dos companheiros de aventura (Graham Maby, no baixo, e Dave Houghton, na bateria), faltando apenas o guitarrista Gary Sanford. Este disco não é, pois, uma espécie de lado B do Volume 4, que reuniu a banda em 2003. Fica talvez mais próximo dos discos a solo, mais adultos. É certo que há canções de grande pedalada (“King Pleasure Time” e “Good Bad Boy”) e dançantes (“Rush Across the Road”, com um belíssimo solo de baixo), mas a sofisticação das baladas (“Solo”, ou “Wasted Time”) é mais forte que os ímpetos juvenis. Como já vem sendo hábito, o CD traz como bónus um DVD, com actuações ao vivo e até um making of.