Seasick Steve - Walkin' Man ****

Este disco faz sentido (sim, nem todos os Best Of fazem sentido). Este disco permite uma leitura da obra de Seasick Steve sem os aspectos folclóricos que podemos ver no Youtube – guitarras feitas de lata, com duas ou quatro cordas, caixas de ritmo artesanais, que funcionam ao pontapé. Talvez tudo tenha começado por aí, pela piada da coisa: “Olha o velho maluco que está na BBC!”. Mas era evidente, logo ao primeiro disco, há sete anos, tinha Steve 65, que o blues que por ali corre é autêntico. São histórias, com ou sem grande moral, embrulhadas numa sonoridade agreste, suja, do tal delta do Mississipi. Há coisas mais suaves, acústicas até (“Treasures”), mas a matriz é, de facto, elétrica. À média de um disco por ano, imaginem a avalanche de blues serôdio. Que sabe bem revisitar e reavaliar, com duplo sentido.

Tindersticks - The Something Rain ****

De certa forma, este é um exercício de virtuosismo. Um disco que começa com uma tema declamado de nove minutos, que encerra com um instrumental e que, pelo meio, tem noturnos lânguidos a sério, música quase de feira, R&B e coros roubados a Leonard Cohen. Uma salgalhada? Nada disso, e aí reside o segredo e outra face do virtuosismo deste exercício – estamos perante a pura elegância de sempre dos Tindersticks e fica claro que a amplitude conceptual do disco radica numa liberdade estética que só a maturidade confere. “Come Inside” espraia-se sem fim à vista, enquanto “Slippin’ Shoes” ataca a noite por outro ângulo, o dos cabarets, e “This Fire Of Autumn” ou “Medicine” quase mereciam os tops.

Tindersticks


Sim, preparem-se para uma declamação de dez minutos, acompanhada por teclas e guitarras, essencialmente. É o tema de abertura do novo disco dos Tindersticks e, apesar de os mais antigos acharem que soa a “Atlantis”, do Donovan, a história contada por David Boutler lembra mais a comédia de equívocos sexuais de “Lola”, dos Kinks. Uma história bem humorada, coisa rara na banda de Nottingham. O resto, já sabem, fica entregue a Stuart Staples e à sua característica voz de barítono com um ligeiro (às vezes, mais que ligeiro...) trémulo. Esta nova passagem dos Tindersticks pelo burgo destina-se, essencialmente, a apresentar “The Something Rain”, uma edição já deste ano, em que a banda se espraia por latitudes musicais muito diversas. Claro que a toada dominante é a nocturna, com temas de uma marcada placidez (“A Night So Still”), mas os corpos talvez não resistam ao apelo R&B de “This Fire Of Autumn” e muito menos à batida mais evidente de “Frozen”. Muito provavelmente, faltarão em Lisboa os deliciosos coros femininos à la Cohen que pontuam o disco, ou mesmo alguns deliciosos apontamentos de cordas e metais. Fica, pois, uma banda de teclas e guitarras, afinal de contas a marca desta segunda encarnação da banda.

Birdy - Birdy ***

E vocês ainda não ouviram nada. Este disco bem poderia ter um autocolante com esta frase. Porque tudo aqui soa a uma espécie de aperitivo a algo que se adivinha, ou que se promete, muito maior. Vejamos: a menina Jasmine Van den Bogaerde vai fazer 16 anos em Maio e decidiu debutar com uma colecção de versões de uns temas densos de bandas indie (The National, XX, Fleet Foxes...). A história começou, aliás, há um ano, com o enorme nos tops de Londres da versão de “Skinny Love” (Bon Iver). Grande trabalho de piano, algumas cordas e uma voz de grande projecção. Só que, rezam as crónicas, a moça escreve canções desde os 12 e neste CD até mostra uma mais que razoável (“Without a Word”). Como quem diz: isto é o que eu sou capaz de fazer com as canções dos outros, agora imaginem quando vos mostrar as minhas... Pena que, com um nome tão elegante, a menina Jasmine Van den Bogaerde tenha escolhido adoptar o tão banal Birdy.

Rita Redshoes


Diz-me o que ouves, dir-te-ei quem és. Se cantares, oh oh, então dir-te-ei, não apenas quem és, mas quem gostarias de ser. Rita Redshoes gostaria de ser Tori Amos, mas isso já sabíamos dos discos. E gostaria de ser ainda PJ Harvey, Amélia Muge, Loretta Lynn, Lhasa de Sela, Joan Jett, Nina Simone, Dolly Parton, Joni Mitchell, Patti Smith, Sheryl Crow... Uff, tantas. E, claro, Rita gostaria de ser David Fonseca, mas isso também já sabíamos dos discos (e o nome estragava a série...). Gostar de ser tanta gente não tem mal nenhum, antes pelo contrário. “Gostar de ser” pode ser “apropriar-se de” e é isso que Rita Redshoes vai fazer numa série de espectáculos que vão correr o País e que começam em Lisboa, a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Não por caso. O universo de Rita é assumidamente feminino e nestes concertos ela pretende homenagear aquelas mulheres que, de alguma forma, a influenciaram e fizeram despertar para a música. Pelo palco e pela voz de Rita vão passar canções como “Bad Reputation”, “Save Me”, “Ring Of Fire”, ou “Man Size”, em versões que, esperamos, juntem pelo menos um pouco de Rita a cada uma delas. Até porque há a promessa de uma “releitura dinâmica e surpreendente”. Isso, surpreende-nos Rita, que nós gostamos.