Mumford & Sons


O sucesso dos Mumford & Sons construiu-se na estrada. Em sete anos de carreira, lançaram apenas dois discos – Sigh No More (2009) e Babel (2012) –, mas deram milhares de pequenos e grandes concertos, em casa e depois na América, e foi aí, ao vivo, que a fama singrou. Porque esta música funciona bem é em pubs, onde há muito tempo nasceu, ou em grandes e pequenas arenas, que a banda enche de banjos vibrantes e coros gritados. Uma festa, portanto, como Lisboa já comprovou, no Verão passado, no Optimus Alive. 2013 foi, de resto, o ano de ouro dos Mumford & Sons (M&S), com uma digressão de sucesso avassalador nos EUA, culminando no Outono, com o segundo disco a entrar directamente para os primeiros lugares dos tops e a vender que nem pãezinhos quentes, na América e no resto do mundo. Já no início deste ano, surgiria a consagração e os M&S a receberiam o galardão de melhor disco para Babel na cerimónia dos Grammys. Há que se lhe tirar o chapéu – poucos se atreveriam a prever tal sucesso, quando, nos primeiros anos, faziam o circuito da música alternativa no Reino Unido, com um som um tanto inusitado: a recuperação do folk acústico, sustentado quase integralmente em guitarras, banjos e harmonias vocais, que contavam (e contam) histórias de amor com frequentes referências religiosas. Terá sido, pois, a persistência e o tal ambiente de festa quase encantatória que criam em palco que lhes garantiu o lugar de destaque que agora ocupam. É claro que se trata de um estilo com as suas limitações e o grande desafio dos M&S será manter a máquina em funcionamento por muitos e bons anos. Para já, nada mais se lhes pede que repitam em Lisboa o apelo ao coro do público, talvez ao isqueiro (iphone?) nas baladas e, seguramente, uns saltos em alguns dos temas mais conhecidos. É dia de festa e não a vamos estragar com ideias sombrias sobre o futuro, pois não?

Patrick Watson + Perry Blake


Uma noite de construção de paisagens sonoras na Avenida. Patrick Watson, já conhecemos, com aquela cacofonia organizada que se tornou imagem de marca. Perry  Blake a surpreender, com um projecto radicalmente diferente daquilo a que nos habituou. Deixemos as surpresas para o fim. Patrick Watson traz a Lisboa um concerto vastamente rodado na América, construído em torno do último disco, Adventures in Your Own Backyard. Acontece que, nesse CD de prolongada maturação doméstica, o canadiano experimentou um novo conceito: tentar captar em estúdio a criatividade exuberante dos espectáculos ao vivo. Uma inversão de processos, que tornará menos surpreendente o exercício de palco, apesar disso muito recomendável, tendo em conta o rasto de imaginação que o portugueses tão bem conhecem. Perry Blake, outro habitué destas paragens, traz agora o seu novo projecto, Electro Sensitive Behaviour, do qual pouco se conhece – o disco só sai daqui a umas semanas -, apenas que se trata de electrónica pura e dura. Resta saber se o projecto abarca apenas as novas canções, ou se irá reciclar aquelas coisas melodiosas com que o irlandês se estabeleceu nas margens menos comerciais da pop.

El Perro del Mar - Pale Fire***

A amor, como sabem, é uma treta. Dancemos, por isso. Ou a isso. Tivessem ainda os discos mensagem e esta seria a de Pale Fire, quinto exercício da sueca Sarah Assbring, El Perro del Mar por vontade própria. Há uns anos que ela canta esse tal amor, uma espécie de miragem que sempre se desvanece na hora em que a alcançamos. Um fogo pálido. Este disco aprofunda o movimento iniciado com Love Is Not Pop (2009), com a rendição à electrónica, mas inflecte decididamente para territórios de dança. Uma espécie de revisitação da década de 1990, a que não faltam todas as expressões que a partir daí se enraizaram: dub, house, hip-hop... Destaque para os três temas que ocupam o zona central do CD (Walk On By, Love In Vain, To The Beat Of a Dying Heart), três temas bem conseguidos, em que a amargura do tal maldito amor é filtrada por caixas de ritmo, teclas estranhas e coros obsessivos. Coisa quase a merecer um novo movimento – urbano-melancólicos?