Amy Winehouse - At The BBC ****


Assalto ao espólio, parte II. Com a mesma velocidade com que Amy Winehouse (1983-2011) passou pela Terra, a indústria discográfica partiu em busca das pérolas restantes do génio. Após vasculhar nas gravações de estúdio (Lionness: Hidden Treasures), num trabalho no limite do razoável, chega agora a vez das actuações ao vivo, no caso, as efectuadas pela BBC rádio e TV, entre 2004 e 2009. Amy foi um diamante em bruto que por aqui passou, seja pela forma como transformou o seu conflito com o amor em algumas das mais belas canções da década, seja pela forma desamparada, nua, como expunha esse doce desconforto em público. Ao vivo – Lisboa sabe-o – as coisas descambavam frequentemente, sob o peso das drogas e do álcool. Mas, quando os deuses o permitiam, era sublime, como em “Just Friends”, “Love Is A Loosing Game”, “Valerie”, ou “You Know I’m No Good”, presentes neste CD. Das duas edições, com um ou três DVD, a segunda é obviamente melhor – o contexto visual explica algumas performances.

The Vaccines - Come Of Age ***


Temos banda, e agora? A questão, diga-se, está razoavelmente mal respondida na segunda incursão discográfica dos Vaccines. Em 2011, surpreenderam Londres e o mundo com uns ares de revivalismo punk e a ambição disfarçada de porta-vozes de uma geração, que é o que todas as bandas punk sonha(ra)m. Agora, mantêm essa sonoridade crua, já não querem ser bandeira de coisa nenhuma e assobiam para o lado, disfarçando um certo desnorte conceptual. O resultado é um disco com algumas canções acima de mediania, mas que acaba por deixar todas as confirmações em aberto para a terceira rodada, afinal de contas o drama de muitos segundos discos. Há coisas terríveis (em “Lonely World” teme-se que sejam sinos de Natal o que se ouve em fundo), há punk a sério (“No Hope”), experiências interessantes (“Weirdo”), singles evidentes (“Teenage Icon”), mas, no final, o que pravalece é um “Está bem, e depois?”.

Áurea - Soul Notes **

Áurea soube aproveitar bem, muito bem mesmo, a sua primeira oportunidade para causar uma boa impressão. O disco com o seu nome, de 2010, vendeu que nem pãezinhos, algumas das suas canções estiveram na rádio durante meses, encheu salas por todo o lado e até teve direito a subsídio de Natal, com um inusitado disco ao vivo lançado fez agora um ano. O segundo disco, tradicionalmente um teste a qualquer artista pop, surge como natural extensão do primeiro e sem qualquer tipo de drama. Áurea e os autores só têm que fazer novas canções, de preferência que lembrem as primeiras, de forma a manter a máquina em funcionamento. Ninguém se lembrará de pedir inovação a um projecto que trabalha precisamente o conceito de pastiche. Ah, e as canções, como são? Pois... são quase iguais às primeiras. Com a diferença de que, agora, já não são surpresa e, na verdade, não há nenhuma com tanta graça como “Busy (For Me” e “Okay Alright”. Um pouco entediante, em suma.

Tori Amos - Gold Dust ****

Estava escrito nas estrelas e, por isso, o maior defeito deste disco acaba por ser a sua previsibilidade. A música de Tori Amos é de um classicismo evidente, seja pela própria criação, seja pela textura da interpretação vocal ou mesmo pela omnipresença do piano. Frutos de uma educação esmerada... Esta revisitação de canções de duas décadas de carreira acaba, pois, por não desarrumar excessivamente os originais, percorrendo caminhos de alguma segurança criativa. Não é por acaso que os arranjos foram entregues a John Philip Shenale, colaborador de longa data. O risco recai, pois, todo na selecção do repertório, que deixa de fora as canções mais conhecidas e opta por momentos de maior intimidade autobiográfica. Tudo somado, este disco acaba por constituir um catálogo demonstrativo das enormes capacidades criativas e interpretativas de Tori Amos. Canções como “Yes, Anastasia”, “Winter”, “Jackie’s Strenght”, ou a que dá nome ao disco, são disso exemplo.

Two Door Cinema Club - Beacon ***

Disco sound revisitado na era da música indie. Os norte irlandeses Two Door Cinema Club (TDCC) ultrapassam confortavelmente a maldição do segundo disco e atiram mais 11 peças para as pistas de dança. A receita, desvendada em Tourist History (2010), é simples: meia dose de electrónica, outro tanto de guitarras. Nem sempre com grande rigor – “Wake Up” soçobra às roupagens eléctricas, “Someday” respira guitarras por todo o lado. Ouvimos, por vezes, uns coros perfeitos a lembrar Fleet Foxes (!?), por exemplo, no início de “The World Is Watching” – uma grande canção, já agora –, outras vezes, a barreira de guitarras recorda os Strokes. Não vale a pena, porém, menosprezar a obra, remetendo-a às influências. Ou sequer limitá-lo ao evidente pastiche de alguma música dos anos 80/90. Este é material original. E, claro, bem mais profissional, elegante também, que o do primeiro disco.